Uma vez que nesse texto farei referência aos termos antropofagia e canibalismo, que são semelhantes, mas guardam uma diferença importante, considero necessário diferenciá-los: Antropofagia é uma expressão de origem Grega cujo prefixo Antropo designa homem e o sufixo Fagia / Fago significa comer. Antropofagia é, então, o ato de o ser humano comer a carne de outro individuo da sua espécie. Quando o ato de ingerir carne de outro individuo de mesma espécie ocorre entre animais não humanos denomina-se canibalismo. É usual e correto se referir a antropofagia como canibalismo, porém, não é correto referir-se à canibalismo como antropofagia, já que antropofagia é restrito à espécie humana.
Feitos os esclarecimentos digo que, entre os animais destituídos de razão, também denominados animais inferiores, o canibalismo é prática relativamente contumaz e pode ter várias motivações, uma delas é a restrição ou privação de alimento. Lembro-me da época de acadêmico de Ciências Biológicas (bacharelado), lá pelos anos de 1992... A minha turma era composta de sete alunos e durante a disciplina Etologia (ramo da biologia que estuda o comportamento animal) a turma recebeu do professor uma gaiola contendo um casal de ratos e recebemos instruções para realizar o nosso primeiro experimento biológico. As instruções foram as seguintes: 1) A gaiola deve ser colocada e mantida em local agradável no que diz respeito a temperatura, umidade e luminosidade; 2) A área da gaiola jamais deverá ser alterada; 2) Os animais deverão receber diariamente e em horário definido, durante o semestre letivo, uma quantidade fixa de ração e água que serão superiores às necessidades diárias dos dois animais; 3) A equipe deve efetuar registros de tudo o que for observado no comportamento desses animais. Para que o leitor acompanhe o raciocínio, vou fazer algumas considerações sobre a biologia dos roedores: São animais com grande capacidade de adaptação e que em situações ideais atingem rapidamente o clímax reprodutivo, resultando em ninhadas em períodos dentro do limite extremo da capacidade da espécie. Na verdade, o incremento reprodutivo é um comportamento elementar em qualquer espécie biológica, uma vez que estamos falando de estratégia de perpetuação. Isso tanto é verdade que os micróbios - em situações favoráveis - dispensam a reprodução sexuada e recorrem à reprodução assexuada (cissiparidade/bipartição) para garantir o rápido povoamento do território parasitado. E apenas em um segundo momento da colonização é dada importância à troca de gens para garantir variabilidade.
Mas, voltando para o nosso experimento com o casal de ratos, os dias passavam e tudo acontecia conforme planejado, ou seja, gaiola bastante ampla para dois indivíduos, excesso de água, excesso de ração, temperatura e umidade ideais controladas, tudo perfeito! A resposta biológica irracional não foi outra senão início e incremento no limite extremo da função reprodutiva: A ratazana era fecundada, gestava, paria, iniciava nova gestação... Os filhotes atingiam a maturidade sexual precocemente e também entravam no ciclo reprodutivo. Até que os problemas começaram a aparecer: O espaço que antes era abundante já ficou insuficiente. A ração e a água também já não suprem as necessidades da população confinada. O que era favorável passou a ser desfavorável e o nível de tensão e estresse aumentam, o que é constatado pelo aumento da agressividade e inquietação dos animais no confinamento... A partir de então, as ninhadas que vão surgindo são devoradas pelos próprios indivíduos no esforço pela sobrevivência. Nesse ambiente o canibalismo passa a ser a válvula que controla a população, ajustando-a às condições impostas pelo ambiente.
O que relatamos até então está perfeitamente enquadrado no que chamamos de comportamento instintivo. Mas o que é instinto? Esse comportamento é controlável? É comportamento restrito aos animais irracionais? O homem pode abrir mão de seu comportamento racional e agir por instinto?
Instinto é palavra de origem no Latin (instinctu) e designa estímulo ou impulso natural e involuntário pelo qual os animais, incluindo o homem, executam certos atos sem consciência e, portanto, sem reflexão sobre as conseqüências. Pode também significar uma aptidão inata, ou seja, de nascença. Mas, geralmente, a resposta instintiva está associada à necessidade de autopreservação, ou seja, de sobrevivência. O detalhe é que as experiências, as sensações, as emoções aprimoram o instinto e esse aperfeiçoamento é transmitido dentro da espécie como herança biológica. Isso explica, por exemplo, porque um animal reconhece e identifica outro animal de outra espécie como inimigo natural e que deste deve fugir, impelido pelo instinto de sobrevivência.
Não se questiona o processo evolutivo pelo qual passou o Homo sapiens (nome científico atribuído à espécie humana) desde o seu brotamento a partir do ancestral primata comum. Nos momentos iniciais da nossa espécie a diferença de comportamento e de atitudes em comparação com os outros animais eram mínimas. No caso do Homo sapiens, o arcabouço constitutivo do sistema nervoso possibilitou que o processo evolutivo aprimorasse substancialmente esse compartimento, dotando o homem da capacidade de raciocínio e reflexão. Ou seja, a espécie humana passou a se diferenciar das demais espécies por ter a consciência do aqui e do agora. As sua atitudes deixaram de ser mediadas apenas pelo instinto. Na verdade, o instinto passou a ser um componente secundário, integrante do sistema nervoso vegetativo. A pergunta que fica é a seguinte: Porque o processo evolutivo não suprimiu do DNA humano as sequências que determinam as atitudes instintivas? A pergunta é muito interessante, mas a resposta é obvia... há situações na interação do homem com o ambiente em que a decisão tem que ser tomada em milionésimos de segundo, sob pena de causar danos irreparáveis ao organismo, inclusive a morte. Sendo assim, associar instinto à sobrevivência é por demais apropriado.
Por isso, mesmo após milhares de anos de evolução, trazemos no nosso código genético, de forma latente, os genes que modulam o nosso impulso antropofágico: Em uma situação ideal, com todas as variáveis sob o controle da razão, não pensamos e sequer admitimos a possibilidade de ingerir a carne do nosso semelhante. Mas numa situação de estresse extremo, quando as variáveis que julgamos importantes estão desfavoráveis, o componente racional do nosso sistema nervoso é desligado, pois está em jogo a condição mais elementar de perpetuação da espécie que é a sobrevivência. Aí a antropofagia que era algo inadmissível para o nosso componente racional passa a ser considerada, admitida.
O exemplo mais emblemático de antropofagia entre humanos civilizados é retratado a partir de um acidente aéreo que ocorreu na Cordilheira dos Andes em 1972. Os relatos dão conta que com a queda de um avião de passageiros algumas pessoas sobreviveram e após vários dias sem qualquer perspectiva de socorro e uma vez tendo consumido todo o alimento disponível à bordo, os sobreviventes passaram a se alimentar de carne humana daqueles que faleceram com o acidente. Nesse caso a decisão de consumir carne humana também foi influenciada pelo fato de os corpos não terem apodrecidos, uma vez que a região onde aconteceu acidente possui temperaturas extremamente baixas que promoveu a conservação dos copos. Relata-se, inclusive, que os sobreviventes utilizaram fragmentos da fuselagem do avião como utensílio de corte. Pelo que me consta, esse acidente virou roteiro de filme, mas não assisti.
Mas, voltando para o nosso experimento com o casal de ratos, os dias passavam e tudo acontecia conforme planejado, ou seja, gaiola bastante ampla para dois indivíduos, excesso de água, excesso de ração, temperatura e umidade ideais controladas, tudo perfeito! A resposta biológica irracional não foi outra senão início e incremento no limite extremo da função reprodutiva: A ratazana era fecundada, gestava, paria, iniciava nova gestação... Os filhotes atingiam a maturidade sexual precocemente e também entravam no ciclo reprodutivo. Até que os problemas começaram a aparecer: O espaço que antes era abundante já ficou insuficiente. A ração e a água também já não suprem as necessidades da população confinada. O que era favorável passou a ser desfavorável e o nível de tensão e estresse aumentam, o que é constatado pelo aumento da agressividade e inquietação dos animais no confinamento... A partir de então, as ninhadas que vão surgindo são devoradas pelos próprios indivíduos no esforço pela sobrevivência. Nesse ambiente o canibalismo passa a ser a válvula que controla a população, ajustando-a às condições impostas pelo ambiente.
O que relatamos até então está perfeitamente enquadrado no que chamamos de comportamento instintivo. Mas o que é instinto? Esse comportamento é controlável? É comportamento restrito aos animais irracionais? O homem pode abrir mão de seu comportamento racional e agir por instinto?
Instinto é palavra de origem no Latin (instinctu) e designa estímulo ou impulso natural e involuntário pelo qual os animais, incluindo o homem, executam certos atos sem consciência e, portanto, sem reflexão sobre as conseqüências. Pode também significar uma aptidão inata, ou seja, de nascença. Mas, geralmente, a resposta instintiva está associada à necessidade de autopreservação, ou seja, de sobrevivência. O detalhe é que as experiências, as sensações, as emoções aprimoram o instinto e esse aperfeiçoamento é transmitido dentro da espécie como herança biológica. Isso explica, por exemplo, porque um animal reconhece e identifica outro animal de outra espécie como inimigo natural e que deste deve fugir, impelido pelo instinto de sobrevivência.
Não se questiona o processo evolutivo pelo qual passou o Homo sapiens (nome científico atribuído à espécie humana) desde o seu brotamento a partir do ancestral primata comum. Nos momentos iniciais da nossa espécie a diferença de comportamento e de atitudes em comparação com os outros animais eram mínimas. No caso do Homo sapiens, o arcabouço constitutivo do sistema nervoso possibilitou que o processo evolutivo aprimorasse substancialmente esse compartimento, dotando o homem da capacidade de raciocínio e reflexão. Ou seja, a espécie humana passou a se diferenciar das demais espécies por ter a consciência do aqui e do agora. As sua atitudes deixaram de ser mediadas apenas pelo instinto. Na verdade, o instinto passou a ser um componente secundário, integrante do sistema nervoso vegetativo. A pergunta que fica é a seguinte: Porque o processo evolutivo não suprimiu do DNA humano as sequências que determinam as atitudes instintivas? A pergunta é muito interessante, mas a resposta é obvia... há situações na interação do homem com o ambiente em que a decisão tem que ser tomada em milionésimos de segundo, sob pena de causar danos irreparáveis ao organismo, inclusive a morte. Sendo assim, associar instinto à sobrevivência é por demais apropriado.
Por isso, mesmo após milhares de anos de evolução, trazemos no nosso código genético, de forma latente, os genes que modulam o nosso impulso antropofágico: Em uma situação ideal, com todas as variáveis sob o controle da razão, não pensamos e sequer admitimos a possibilidade de ingerir a carne do nosso semelhante. Mas numa situação de estresse extremo, quando as variáveis que julgamos importantes estão desfavoráveis, o componente racional do nosso sistema nervoso é desligado, pois está em jogo a condição mais elementar de perpetuação da espécie que é a sobrevivência. Aí a antropofagia que era algo inadmissível para o nosso componente racional passa a ser considerada, admitida.
O exemplo mais emblemático de antropofagia entre humanos civilizados é retratado a partir de um acidente aéreo que ocorreu na Cordilheira dos Andes em 1972. Os relatos dão conta que com a queda de um avião de passageiros algumas pessoas sobreviveram e após vários dias sem qualquer perspectiva de socorro e uma vez tendo consumido todo o alimento disponível à bordo, os sobreviventes passaram a se alimentar de carne humana daqueles que faleceram com o acidente. Nesse caso a decisão de consumir carne humana também foi influenciada pelo fato de os corpos não terem apodrecidos, uma vez que a região onde aconteceu acidente possui temperaturas extremamente baixas que promoveu a conservação dos copos. Relata-se, inclusive, que os sobreviventes utilizaram fragmentos da fuselagem do avião como utensílio de corte. Pelo que me consta, esse acidente virou roteiro de filme, mas não assisti.
1 comment
O bíblico “DO PÓ VIESTE E AO PÓ RETORNARÁS” seria um plágio?
ReplyEmbora Esdras só tenha começado fabricar o ANTIGO TESTAMENTO escrito em torno do ano 500 antes de Cristo.
Até hoje a Bíblia continua mentindo que o Pentateuco foi escrito pelo Arquétipo Moisés...
E na antiga versão religiosa dos ocidentais, onde TUDO era movido á MILAGRES; é relatada a bazofia de que teria sido o Deus bíblico quem primeiro afirmou ao Adão que “DO PÓ VIEMOS E AO PÓ RETORNAREMOS”...
Mas a realidade é que mais de mil anos antes da Bíblia judaica ter sido escrita, ou seja, a cerca de 3360 anos atrás, o Faraó AMEN-HOTEP, que significa “Amon está satisfeito"; e que mudou o seu nome para AQUENÁTON, que significa "o Espírito atuante de Aton", já tinha entendido que viemos do pó...
E entendido que iremos retornar ao pó...
O Monoteísta Faraó Akenaton fracassou ao tentar mudar para sempre a religião egípcia, mas teria sido o autor do famoso "Hino a Aton" que a Bíblia usou para fabricar o Salmo 104.
Tanto nos antigos relatos egípcios, como no livro, e no filme “O egípcio” é contada a história excitante e verídica do Sinuhe, uma criança colocada dentro de um cesto posto à deriva nas águas do Rio Nilo, e que foi encontrada, criada, e instruída por um médico pobre, porem honesto e caridoso, na arte da medicina...
E ao mesmo tempo também é mostrado que no ano 05 do seu reinado o Faraó Akhenaton (que foi casado com a famosa Nefertiti), compreendeu que “SÓ O PÓ DA TERRA E ETERNO”...
Como NASCER e MORRER são os dois extremos da qualquer ser vivo.
E no passado tudo o que estava antes de alguma vida surgir, ou depois da morte, por não ser conhecido pelos humanos era “explicado” através de alguma especulação mitológica.
Akhenaton mesmo tendo compreendido que o homem veio do pó da terra; e que iremos retornar ao pó; achou por bem continuar convencendo o povo de que a morte não seria o fim da vida...
Em virtude da magnífica civilização egípcia já ser conhecida há mais de 6000 anos atrás, o "Revertere ad locum tuum" da antiguíssima e revolucionaria revelação feita pelo Faraó Akhenaton terminou indo parar no Gênesis 3,19; onde serviu de base para forjar a lenda de que o próprio Deus dos hebreus teria dito ao Adão que, “DO PÓ VIESTE E AO PÓ RETORNARÁS”...
Hoje a ciência atual explica que somos POEIRAS DAS ESTRELAS...
Lisandro Hubris