Mais uma vez retomo nas minhas postagens o tema Biossegurança. Esse é um assunto no qual me especializei e considero dos mais importantes para todas as profissões / profissionais que de alguma forma manipulam material químico, físico ou biológico na rotina dos seus trabalhos, onde podemos incluir: medicina, enfermagem, odontologia, farmácia / bioquímica, nutrição, medicina veterinária, biologia, agronomia, química. Os profissionais de nível médio relacionados a esses cursos também estão considerados.
Em meados do ano 2000, quando decidi por me especializar nesse assunto, tinha esse tema no cotidiano do meu trabalho, pois atuava como presidente da Comissão de Biossegurança de um laboratório de saúde pública. Passados dez anos, avalio que pouco mudou no perfil dos trabalhadores, incluindo os recém formados, quando o assunto é proteção individual e coletiva no ambiente insalubre dos laboratórios, hospitais, clínicas e correlatos. E a justificativa é sempre a mesma: Sempre procedi assim e nunca aconteceu nada! Na verdade muitos anos passarão, acidentes acontecerão, profissionais continuarão sendo infectados e adoecerão. E a explicação é relativamente simples, embora não justifique: Diferentemente do operário da construção civil, que quando negligencia da segurança a consequência é evidente e imediata, como por exemplo a queda do andaime com múltiplas fraturas, uma descarga elétrica com graves queimadura, etc, o operário da saúde não percebe imediatamente as consequências da sua negligência ou imprudência, pois os acidentes biológicos nem sempre produzem efeito imediato. A evolução às vezes é sutil, porém insidiosa, podendo levar anos até a manifestação clínica.
O objetivo então é apresentar e comentar uma séria de casos envolvendo incidentes de biossegurança. Os incidentes que serão apresentados são peças de ficção, mas que devem ocorrer nos inúmeros ambientes de trabalho onde labutam esses profissionais. Incidentes que às vezes são omitidos e não viram estatísticas.
A série que vou apresentar será constituída de 14 casos que selecionei de 26 casos que foram objeto de estudo em uma capacitação de biossegurança que participei como aluno em 2001, cujo instrutores foram dois técnicos do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC-Atlanta).
A seguir listo a ordem dos casos e o assunto que será abordado. O caso nº 1 envolverá a exposição acidental a material perfuro cortante.O caso nº 2 tratará de queimadura envolvendo a manipulação de ácido sulfúrico. O caso nº 3 abordará um incidente num laboratório de zoonoses que resultou em contaminação com vírus do Herpes B. O caso nº 4 aborda o risco da execução do trabalho sem planejamento. O caso nº 5 trata de um acidente envolvendo a manipulação de um rato contaminado com S. pneumoniae. O caso nº 6 envolve a inoculação em placas de agar para testes de sensibilidade. O caso nº 7 retrata uma contaminação acidental por Neisseria meningitidis. O caso nº 8 ilustra um acidente com chipanzé infectado com hepatite C . O caso nº 9 aborda acidente com a arrumação de materiais dentro de um laboratório. O caso nº 10 ilustra acidente com centrífuga e contaminação pelo vírus Arena. O caso nº 11 retrata uma situação envolvendo os riscos de desinformação ou informação precária dentro de um laboratório. O caso nº 12 envolve acidente em uma câmara de fumigação. O caso nº 13 retrata acidente envolvendo manipulação de éter etílico. Por fim, o caso nº 14 aborda acidente envolvendo transporte de produtos. Com a apresentação dessa série de casos esperamos estar contribuindo para a mudança de atitude e comportamento dos profissionais da saúde.