Existem tarefas humanas que são consideradas tão importantes em uma sociedade que enobrecem as pessoas que as executam. Existem tarefas básicas, simples e pouco nobres, mas que são essenciais para a vida em sociedade, a ponto de afirmarmos que se não houvesse alguém para executá-la teríamos que retornar à condição de nômades, ou seja, não existiria sociedade. Mas será que já paramos para refletir sobre o que a sociedade utiliza como critérios para classificar as tarefas humanas em nobres e menos nobres? O fator intelectual é, sem dúvida, um critério importante e extremamente valorizado nessa classificação. Assim, as pessoas que trabalham limpando e desobstruindo o sistema de esgotos de uma cidade, ou ainda os trabalhadores da limpeza urbana são vistos de forma depreciativa e até com menosprezo, pois são tarefas que exigem pouco esforço intelectual. Mas não acredito que seja apenas isso! Há algo de inconsciente - acho que empático! - que desperta no outro o sentimento do contrário. Uma atitude de repulsa e defesa. Algo assim: Se admito que é nobre uma tarefa de pouca exigência intelectual, admito a possibilidade de executá-la e, consequentemente, de familiares meus executarem.
A atitude depreciativa inconsciente funciona como um escudo, onde "O que não desejo para mim não quero para os meus entes queridos". Isso é tão sério que trabalhadores da limpeza urbana são vistos pelas pessoas como uma extensão do próprio lixo urbano. Sendo assim, se para mim o lixo não tem valor, então o que for extensão do lixo não será valorizado.
A atitude depreciativa inconsciente funciona como um escudo, onde "O que não desejo para mim não quero para os meus entes queridos". Isso é tão sério que trabalhadores da limpeza urbana são vistos pelas pessoas como uma extensão do próprio lixo urbano. Sendo assim, se para mim o lixo não tem valor, então o que for extensão do lixo não será valorizado.
A questão é que "Alguém tem que fazer o trabalho sujo!". Há cidades com elevado grau de desenvolvimento onde não existem candidatos para executar as tarefas "pouco nobres". E essa é uma tendência mundial! Por enquanto os países ditos de terceiro mundo são os fornecedores dessa mão de obra essencial e barata. Mas, numa situação ideal - um tanto quanto hipotética - onde todos os países serão de primeiro mundo pois o nível intelectual será elevado, as tarefas que utilizei para ilustrar essa matéria seriam executadas por máquinas (robôs).
Desculpem, mas só agora é que atentei para o título da postagem. Acabei fugindo totalmente do assunto... Será? Claro que não! O urubu é um animal emblemático para essa matéria. Provavelmente, apenas os biólogos e pessoas inclinadas para as questões ambientais reconhecem o seu valor como grande faxineiro. Para não ser injusto com a natureza, também cito outros seres vivos de hábitos necrófagos (comedores de matéria em putrefação) que são a hiena, a mosca e micróbios saprófitas (não causam doença na espécie humana). Pare e pense um pouco: Imagine a quantidade de seres que morrem todos os dias. Se esses organismos sem vida ficassem na superfície da terra e não houvesse uma estratégia para triturá-los e decompô-los a vida na terra já teria sido inviabilizada. No entanto, semelhante aos trabalhadores que cuidam da limpeza das cidades, o urubu é desprestigiado e símbolo da "Mau Agouro".
Mas nem tudo está perdido. Fiquei sabendo de uma história - Não tenho como garantir a veracidade! - que me deixou impressionado pela iniciativa inusitada: Na década de 1970 um vereador no município de Aracaju, capital do Estado de Sergipe, propôs uma Moção de Homenagem ao Urubu, pelos relevantes serviços prestados à sociedade. As informações dão conta que a propositura não logrou êxito, pois sequer foi apreciada em plenário. Curioso é que o referido vereador era analfabeto. Ainda está vivo, eu o conheço, e é político atuante!