Há quem diga que sobre política, futebol e religião não se deve falar porque nunca se chegará a um entendimento. Quando se trata de futebol até compreendo esse posicionamento, uma vez que envolve paixão, ou seja, é algo passional e, portanto, extrapola a racionalidade. Quando diz respeito à religião também parece compreensível pela dimensão subjetiva do tema e cuja âncora chama-se fé. Mas, e política?! Por que será que tantas pessoas assumem, deliberadamente, que detestam política? Chegam até a afirmar que são apolíticos! Ou seja, são estranhos à política. Pergunta-se; existe um indivíduo humano apolítico?!
Segundo o filósofo Grego Aristóteles (384 a.C – 322 a.C), o homem é por natureza um animal político. Ele argumenta que a sociedade humana não é algo artificial, mas fruto da própria natureza desse animal e resultado das suas necessidades. Conclui que são essas necessidades humanas que os levam a agir de certas maneiras sob certas condições.
Nas suas reflexões Aristóteles afirma, inclusive, que “o homem é um animal político mais ainda que as abelhas ou que qualquer outro animal gregário.” Isso porque o homem é o único animal que possui linguagem. Os demais animais até são capazes de expressar, prazer e dor e assim revelar quando algo agrada ou desagrada. Porém, o homem foi equipado com algo mais avançado que os grunhidos animais: a linguagem. Dessa forma, os seres humanos têm capacidade de falar, capacidade essa que pode ser usada para comunicar suas ideias sobre o que é certo e errado, assim como o justo e o injusto.
Ante ao exposto nos perguntamos: o que querem verbalizar os animais humanos que alegam odiar a política e que querem distância da política? Com certeza esses humanos não estão se referindo à política na dimensão imaginada por Aristóteles pois a política na visão Aristotélica é executada constantemente nos atos e atitudes mais simples do nosso cotidiano. Afinal, tomamos decisões politicas em família, na igreja, no trabalho, na escola, nas relações com os amigos, etc. Às vezes o nosso posicionamento é tão sutil que sequer classificamos como decisão política.
Entendemos que as pessoas que rechaçam a política o fazem se referindo a uma faceta da ação política que passamos a denominar “Política Partidária”. Mas essa repulsa / repugnância à politica relacionada aos partidos políticos e aos poderes instituídos não parece ser gratuita. Ela tem raiz no nosso passado histórico. No próprio processo de colonização.
Há quem afirme que o cenário político-partidário no Brasil já foi bem pior! Afinal, estamos vivendo sob um regime democrático há mais de trinta anos! Mas o cenário atual, por melhor que seja, está longe do ideal quando se compara com outras democracias existentes no mundo. Provavelmente em função de sermos uma nação relativamente jovem – com pouco mais de 500 anos – teremos muito a aprender até mudarmos nossas atitudes e comportamentos políticos cotidianos. É essa mudança no perfil de cada indivíduo que produzirá reflexos na até então odiada e rechaçada “Política Partidária”. Por enquanto o que temos nas instâncias de poder politico do país representa o espelho do que somos enquanto sociedade, justificando o ditado popular “O povo tem o governo que merece!”